Mudança e Preservação

7 07America/Sao_Paulo março 07America/Sao_Paulo 2019 0 comments Jayadvaita Categories ArtigosTags , , , , , , ,

O que muda na vida de um instrutor de yoga?

Ê comum encontrarmos pessoas que aspiram mudanças em suas vidas. Basicamente, mudança é o movimento que nos leva a um deslocamento ou transição de um estado a outro, de um modo para outro e isto requer alteração de alguns fatores ou elementos. O oposto de mudança é conservação ou preservação. Pode nos parecer pouco interessante fazermos qualquer reflexão linguística sobre este conceito, mas num segundo momento veremos a importância que há no sentido real da mudança que estamos a buscar.

É fácil notar que às vezes o simples motivo de iniciarmos uma breve jornada no yoga nos sentimos exaltados, superiores ou privilegiados. No entanto, esta impressão não passa de um aspecto sutil de nossa própria ilusão. Costumo apresentar em minhas palestras e aulas magnas da formação de instrutores que o fato de estarmos na prática de yoga ou de iniciarmos um curso de formação para nos tornarmos instrutores de yoga ainda não nos capacita nem nos qualifica como instrutores ou praticantes avançados no yoga. Pelo contrário, o simples fato de deixarmos transparecer qualquer resquício de estarmos num estágio mais elevado que os demais, apenas por estarmos numa formação ou por termos um pouco mais de experiência nesta área não nos fará sermos realmente alguém mais interessante ou avançado.

Este tipo de mudança que se caracteriza por uma perspectiva externa é radicalmente nociva, raramente considerada e comumente vista em grande número de pessoas. Temos encontrado relatos e evidências públicas de personalidades que perdem o bom senso e caem em escândalos entre seus seguidores. Isto tem sido comum, mas não deveria ser entendido como algo comum, pois num processo genuíno de desenvolvimento como proposto pelo yoga, toda mudança deve ocorrer internamente na consciência do praticante e não em suas vestimentas, nomes, títulos ou status de admiração. Isto nos indica que todo o trabalho de tais pessoas não ultrapassaram as barreiras do próprio ego.

Então, é possível dizer que há alguma mudança neste sentido? Por mais avançado que eu possa parecer, se não realizei a mudança central em minha consciência, conseguirei fingir e sustentar toda mudança física ou visual que me representa e sob a qual me escondo? Não é necessário ser avançado em yoga para predizer que não.

O caminho para a mudança real

Isto ocorre pelo fato de que houve apenas um ponto de partida sem compreender a substância que deve haver no ponto de chegada; quer dizer, não é apenas a mudança que devemos ter em mente, mas também e principalmente a preservação de alguns elementos que servirão de substância ao longo do processo de desenvolvimento, sem o qual, não haverá nada mais além que uma quimera.

Por exemplo, se imaginarmos um perito nadador que entra ao mar e inicia suas braçadas mas sem um ponto de referência para onde chegar; fisicamente ele mudou de lugar, de espaço, mudou sua constituição fisiológica, sua condição psicológica e tudo mais, porém, pode ter se perdido e posto sua vida em risco. Do mesmo modo, se acatamos somente a ideia de usarmos o yoga para uma mudança externa, podemos nos perder em meio à imaginação – o que geralmente acarreta sobremaneira o ego. Obviamente o ego não é o problema final, mas as consequências que ele trará por se encontrar no centro do processo. Ou seja, arrogância, soberba e egoísmo traçarão o caminho deste suposto yogi.

Logo, se faz importante entender que para que haja verdadeira mudança é necessário haver seu antônimo, isto é, a conservação de algo que não deverá passar por mudanças. Por exemplo, todos nós passamos por mudanças naturais ao longo da vida e deixamos de ser crianças para nos tornarmos adultos; no entanto, preservamos o mesmo nome, a mesma característica genética e muitos traços que nos distingue dos demais e, o principal fator: o princípio da consciência.

A consciência estável

A consciência muda ao longo da vida. Isto caracteriza nossa verdadeira mudança e evolução. Porém, o princípio desta consciência permanece inalterado. Este princípio é o que define nossa individualidade como ser espiritual único. Quer dizer, o eu permanece o mesmo (e deve ser preservado como o mesmo), mas o comportamento, as operações mentais e cognitivas devem passar por uma constante evolução. É nisto que reside o grande mistério do conhecimento proposto pelo yoga, pois esta evolução real da consciência ocorre na mesma proporção com que se compreende que o eu (o princípio de consciência) não muda. É como se depois de muitas tentativas e erros tomássemos consciência de que é preciso mudança na forma de atuar, pois se entende que a mudança da consciência depende de um princípio que não se altera.

Agora, o fato de haver um elemento da consciência que não muda significa que a verdadeira mudança proposta pelo yoga envolve o autodesenvolvimento, isto é, todos os fatores que impedem de nos tornarmos melhores são alterados por fatores qualitativos que nos favorecerão nesta mudança. Assim, a mudança deve ter início no núcleo de nossa consciência, onde somente nós mesmos podemos e devemos entrar para realizamos os ajustes e mudanças necessárias para que seja alcançado o objetivo em nossas vidas. Muitas vezes, esta mudança ocorre gradualmente sem que se perceba de forma impactante àqueles que estão ao nosso redor, pois não serão elementos ou fatores externos que anunciarão esta mudança senão que nossa própria atitude equânime e serena que denunciará a qualidade de nossa consciência, e das mudanças reais conquistadas.

Uma mudança possível

É possível realizarmos verdadeiras mudanças em nossas vidas sem que percamos os alicerces que sustentam nosso ser, nossas qualidades e princípios. A mudança sintetiza a eliminação do que já não faz mais sentido ou ordem em nossa consciência e, ao mesmo tempo, o refinamento e aperfeiçoamento de qualidades intrínsecas à consciência. Basicamente podemos definir o propósito, a organização e a disciplina como os elementos essenciais que trarão a mudança necessária.

Sobre isto, trataremos no próximo artigo.