A Natureza do Eu e a Consciência

12 12America/Sao_Paulo fevereiro 12America/Sao_Paulo 2023 0 comments Jayadvaita Categories ArtigosTags

Somos feitos de energia, som e luz. Nada mais que isso. Energia que expressa amor. Som que vibra amor. Luz que manifesta amor. Nada mais que isso.

A primeira lembrança que guardamos ao abrimos nossos olhos, ainda no colo materno, foi o brilho dos olhos de nossos pais, que banharam nossa existência com amor em seus olhares, palavras e afeto. Somos feitos disso.

Quantas marcas carregamos em nosso coração e que não são feitas desta mesma natureza matriz? Quantos sentimentos trazemos em nosso coração que contradizem nossa natureza real? Quantos horrores não criamos sobre nós mesmos, nossas vidas e nossos destinos e que não estão alinhados com o que realmente somos?

Toda poeira aglutinada em nossos corpos compõem nossa própria história e nos torna únicos  neste universo. Tivemos inúmeros corpos e passamos por infindáveis experiências para chegarmos onde estamos hoje. O que somos agora. De que valeira olhar trás na tentativa de mudar algo? Nada. De que valeria buscarmos no passado os passos dados e tentarmos mudar tais passos para nos tornarmos quem gostaríamos de ser no presente? Nada.

Nada adiantaria pelo fato de que somos plenamente quem somos. Nada mudará isso em circunstância alguma, pois esse foi o amor lançado pela Mãe Natureza quando em seu grande corpo fomos acolhidos em algum momento do tempo em nossa eternidade. Qual o valor real que há na aparência do mundo que vemos hoje? De nossa aparência no mundo que se mostra para nós agora?

Nesse labirinto existencial, consideramos a realidade apreendida por nossos sentidos e moldada pelos padrões mentais, pelos pensamentos julgadores, pelos condicionamentos comparativos e pelas normas culturais de certo ou errado, de bom ou ruim, de aceito ou não aceito - nesse imenso labirinto artificial, vivemos em busca de algo. Mas, no fundo de nosso ser e no mais elevado estágio de nossa alma, no mais amplo estado de nossa consciência pura, sabemos que não há nada a ser buscado.

Somos plenos de paz interior. É dela que brota felicidade e alegria. A questão não está em mudar a natureza de nossa existência, mas aprender como lidar com ela, sem que nos afastemos de nossa paz interior. Isso é o mais importante.

Muito do que vemos é visto pelos olhos dos outros. Sentimos pelos sentidos do mundo. Quando olhamos no espelho vemos a quem alguém quer que vejamos. Se olharmos a realidade com nossos olhos espirituais veremos que esta máscara só é usada para encenarmos o teatro ilusório do mundo material. Somos energia, som e luz sintetizadas em consciência pura e individual. Somos seres eternos e plenos de beleza, sabedoria e amor. Nossa beleza não está no que observamos ou percebemos, mas na capacidade de observar e perceber. Somos nós que lançamos a beleza na realidade. A sabedoria não está nos livros, sábios ou mestres, mas dentro de nossa simplicidade e desprendimento frente ao julgamento do mundo, cego e insensível. O amor não virá da apreciação interessada de qualquer outro indivíduo, animal ou divindade, mas de nossa entrega despojada de toda sutil hostilidade de nosso falso ego.

Quando olhamos para nós mesmos, devemos ver a composição e buscarmos o autor que compôs a obra. Como numa sinfonia, onde temos dezenas de instrumentos tocados por cada músico, sendo cada qual responsável pela obra, pela composição. Mas toda a composição dança sobre a partitura composta pelo autor. Esse autor é o verdadeiro eu. É para ele que devemos olhar. É a partir dele que devemos ouvir, perceber e viver a grande sinfonia da existência humana. A composição é a obra final - e como toda obra, tem um começo e um fim. O autor não. Ele vive independente de sua obra.

Assim, viveremos em nossa natureza de amor intenso, imaculado e incondicional. E todos os detalhes aos quais nos detivemos, foram apenas notas, tons, timbres ouvidos enquanto nossa obra existencial foi executada ao longo da vida.

Enfim, somos o Ser Consciente, ou a consciência que assiste ao observador, enquanto esse se entretem com os objetos de sua observação. Não se identifique com as características do observador, apenas tenha consciência de que ele está aí. Não se identifique com os objetos presentes no campo observado, pois o próprio observador é parte destes objetos presentes no campo consciente ou na presença do Ser Consciente. Tudo é passageiro. Apenas esteja consciente do que está em sua consciência, mas não se identifique com os objetos que passam por ela, nem mesmo com o observador que se coloca presente em sua consciência e se faz passar por você, por seu Ser Real.

 

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Ensaio é uma expressão livre de argumentos que revelem um olhar embasado, crítico e compassivo através da arte da escrita. Se algo tocou em sua semelhança, afirmo não ter sido pessoal, apenas coincidência.

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